domingo, 9 de fevereiro de 2014

Se olhar. Se permitir. Se aceitar

A bebê gorda
A autoaceitação não é uma coisa fácil. Mas não é mesmo. O preconceito começa com a gente mesmo, vem de dentro pra fora e, mesmo sendo um dos assuntos mais comentados em redes sociais, programas de TV, rodas de amigos e psicólogos, acabou se tornando um clichê e uma espécie de grande vitória para aqueles que estão...como eles dizem mesmo?...fora do padrão.

Mas o processo é bem mais complexo do que se imagina e é preciso construir, a passos muito bem dados, uma certeza de que se é o que se é. E, dessa forma, é possível ser o que se quer ser, se enxergando de uma maneira que te faz  feliz.

A criança gorda (:
Eu não sou uma grande história. Eu nasci um bebê gordo, fui uma criança gorda, uma adolescente gorda, que teve uma fase magra quando tomou Hebralife, fui uma universitária gorda, e me tornei uma adulta...esbelta. Ha! Sacanagem, uma adulta gorda. É, a palavra é essa aí...você consegue pronunciar? EU não sou fortinha, fofinha, fofa...e nem baleia, balofa ou saco de areia. Não. Eu sou gorda mesmo.

Sim, por muitos anos eu não me encaixei. Ou não se encaixaram comigo. Aquela máscara de florzinha na época da primavera, de pétalas, não cabia no rostinho rechonchudo, com bochechinhas cor-de-rosa. OS elásticos da manga do meu uniforme me deixavam marcas e minha coxa exigiam bermudinhas de meninas do colegial.

Eu não conseguiria enumerar quantos garotos não me quiseram por eu não ser magrelinha...e quer saber? Eu sei que eu era muito mais bonita do que elas. Eu era mais bonita, mais divertida, eu comia que nem gente e não como um passarinho e, mesmo assim, eu ainda era só "a gorda" e ninguém queria queimar seu filme pegando a tal. Anos depois, até ouvi de alguns deles que foram uns idiotas deixando de aproveitar uns momentos bacanas comigo, deixando de dançar comigo nas festas, deixando de saber se minha companhia era melhor do que a maneira como viam a minha aparência.

A adolescente tentando fazer a magra :O
Então eu cresci. Cresci e selecionei melhor minhas relações. E eu não precisava tentar ser magrar ou me sentir culpada por me aceitar gorda para os amigos que eu estava fazendo. Eu já podia não me sentir tão mal sendo gorda, não me sentir tão mal sendo quem eu era, assumindo a minha essência. Foi então eu desabrochei meu amor próprio, entendi a minha beleza e descobri minha vaidade. Mais do que isso, descobri que minha saúde é como a de todas as outras pessoas, precisa de cuidados essenciais...mas não necesssariamente de emagrecimento.

Pronto. Hoje eu me vejo e me permito. E me sinto. E me aceito. E me acho bem mais bonito do que há alguns anos quando eu queria ser como as minhas amigas. Amigas? Quanta ingenuidade. Mas enfim, isso é assunto pra uma outra conversa. Me sinto mais bonita do que quando eu quis ser alguém que não passava nem longe daquilo que eu queria ser de verdade, bem lá no fundinho. Me olho e me permito receber um elogio e não só ouvir que o "meu rosto é tão lindo...se você emagresse um pouquinho...".

E permitir-se é libertador. É embelezador. E te traz confiança de brinde. Se permitir é tomar consciência da sua capacidade, das suas verdades, dos seus valores e das suas fragilidades. E mais ainda, das suas possibilidades de erro. Se permitir é não se importar com uma calça 50, uma blusa GG ou aquela arara que tem o nome mais idiota que se poderia dar a roupas grandes: tamanhos especiais.

Cresceu! A loKa!
Se permitir é o verbo que falta nessas pessoas tidas como fora dos benditos padrões. Outro dia me deparei com um senhor dizendo que uma empresa precisa de uma moça loira, alta e magra pra criar a boa imagem da companhia. É claro. Eu jamais poderia fazer esse papel estando linda trajando uma bela roupa, com uma maquiagem de arrasar, mas tendo as coxas grossas, ou uma barriga saliente. Onde já se viu isso?

Volto a minha ideia inicial e reforço que eu sei que se trata do assunto mais clichê dos últimos anos esse de ser gorda. Mas falar sobre isso, colocar em palavras que podem ser disseminadas ajuda. Ajuda a libertar mais pessoas, a se libertar mais, a crer mais em mim. Na minha beleza própria e particular, no poder do meu sorriso, na alegria das minhas piadas sutis sobre mim mesma, nos elogios que hoje soam tão positivos, na força de retrucar quando vier uma ofensa desnecessária.

Nesse último sábado (8) rolou o Bazar Pop Plus Size na escola Madre, em Pinheiros, Sampa. No evento rolou um workshop com a Ju Romano, bloggeira mais do que fofa do Entre Topetes e Vinis  (blog bafo!!), e o asusnto foi esse. Aceitação. Entendimento. Eu vi uma garota de TREZE anos ter os olhos cheios de lágrimas ao contar que tem vergonha das suas pernas. Por isso eu digo...é verdade. É clichê. Mas quem precisa saber, aceitar, se olhar...ainda não consegue.