terça-feira, 22 de março de 2011

Revisistas

É engraçado como quando revisitamos pessoas, lugares, somos capazes de revisitar sentidos, sentimentos, cheiros, sons, memórias, boas ou más lembranças, risos ou lágrimas.

É engraçado como nosso cérebro é capaz de se transformar em tão poderosa máquina do tempo que nos permite viver novamente momentos que, na teoria, não poderiam ser revividos.

É como quando visitamos uma amiga e colégio de muitos, muitos, muitos anos, senta, conversa e ri até chorar revivendo, em detalhes, momentos que, ao mesmo tempo, passaram e são tão presentes. Segundos de gargalhadas te levam a momentos impagáveis.
Assim como segundos de lágrimas, diga-se de passagem.

Se permitindo reviver certas coisas, nasce a oportunidade de ver qualquer situação de fora, como expectador e a fazer, a si mesmo ainda mais feliz.

É como fechar os olhos e lembrar de alguém que já morreu. Pode parecer clichê, mas se você se concentrar bem e bastante será capaz de ouvir a voz dessa pessoa, sua risada, e até mesmo um carinho ou um abraço. O dom que temos que de lembrar de momentos nos permite coisas incríveis!

É como sentir cheiro de infância. Já sentiu cheiro de infância? De lancheira? Cara, cheiro de lancheira é o mais autêntico cheiro de infância que existe. O cheiro de uma lancheira me faz lembrar do gosto do cachorro quente que minha avó me mandava de merendinha.

E lembranças de beijos?! Por mais que você tenha um namorado de anos, um marido, 58 anos de casado, impossível não se lembrar dos beijos que você já beijou. Atrapalhados, inocentes, de tirar o fôlego, carinhosos, apaixonados, memoráveis ou "esquecíveis". Há até a lembrança daquele beijo que você não beijou...mas queria tanto que podia senti-lo mesmo assim.

É como ouvir músicas antigas que pra você parecem recentes como o dia de hoje. A música é capaz de te transportar para exatos segundos passados e te fazer sentir as mesmas coisas de anos, meses ou dia atrás. A música é capaz de acordar sensações, de trazer de volta o gosto bom de um beijo, de uma noite, de uma conversa ou o amargo de uma perda, de uma briga, de uma fossa, de palavras ditas e mal entendidas. Elas podem, pior que isso tudo, te fazer repensar e cogitar até mesmo um arrependimento.

Faça essa experiência. Feche os olhos, escolha um momento e revisite-o. E não opte só pelos bons. Na verdade, dê prioridade para os ruins, talvez isso te ajude a superá-lo, a ver que não foi tão ruim quanto pareceu. Ou, apenas assisti-lo, te mostre que ele já passou. De verdade, pra sempre.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Infinitos lados

Todo mundo tem dois lados. Ou mais. Facetas que podem ser desenvolvidas, pode se nascer com elas ou a necessidade pode criá-las, sem que você as deseje ou que mesmo as autorize surgirem dentro de você. Como diz o clichê, ninguém é totalmente bom ou completamente ruim. Lutamos dia a dia com nossos demônios, tentando encontrar e entender qual seria nosso melhor lado.

Que fique claro que são lados opostos, sempre. Bom e ruim, engraçado e sem graça, bem humorado e mau humorado, feio e bonito, sereno e nervoso. São esses lados que nos fazem seres humanos complexos, interessantes e tão preocupantemente voláteis. Somos criaturas completamente instáveis, sensíveis à ofensas, a cutucadas, a chacoalhões a verdades jogadas na cara.

Somos frutos da criação de um ser perfeito que, certamente tem um propósito para toda essa nossa inconstância, para todas as nossas volatilidades. Somos seres extremamente complexos e aposto que seríamos bem menos interessantes caso fôssemos unilaterais, passivos e estáveis. Seríamos chatos e possivelmente não nos entenderíamos tão bem.

Todos esses nossos lados nascem pra dar vida àquilo que sentimos. E eles nascem aos pares para que possam demonstrar tristeza ou alegria, raiva ou afeto, bom ou mau humor, força ou fraqueza, coragem ou temência, e todos os turbilhões de coisas que sentimos desde o momento em que nos levantamos da cama até o momento em que, exaustos, voltamos pra ela.

O melhor exemplo do nascimento de lados veio com esse terremoto que devastou o Japão. Os japoneses estão fazendo florescer seu lado da força, da coragem, da renovação, do acreditar, do apostar as fichas. Será preciso engolir a seco que o passado não só ficou pra trás como não existe mais, foi dizimado e recuo junto com o mar, foi embora junto com o tremor que durou menos, bem menos do que a construção daquela potência.

Às vezes, é assim que nos sentimos. Obrigados a tirar de lá do fundo o lado da renovação, da coragem pra encarar uma reconstrução...e como é difícil. Às vezes é preciso gritar, berrar, sentir com intensidade, chorar até começar a soluçar, dizer todos os palavrões que se conhece...às vezes é preciso deixar o seu lado tenso se sobressair para que ele não dure muito.

É melhor que ele seja mais intenso, mais vívido, mais colorido do que duradouro. É melhor que ele vá com a mesma rapidez que veio. É melhor que quando ele aparecer, doa de uma vez, como temos que arrancar um pedacinho de esparadrapo. É melhor que ele chegue, se faça presente, cumpra sua missão e só volte em outra ocasião extremamente necessário.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Como peças de Lego...


Seria bom se, como peças de Lego, nós pudéssemos montar e desmontar nossos sentimentos. Se assim pudéssemos escolher as formas, as cores , os tamanhos e as posições daquilo que sentimos.

Seria melhor ainda podermos ordenar nossos sentimentos por necessidades, situações ou vontades. Seria bom ainda se pudéssemos ampliá-los ou diminuí-los conforme o passar do tempo.

Seria melhor ainda se fôssemos capazes de movê-los pra onde o cerébro quer e não pra onde o coração ordenasse...mesmo que fosse lá pro fundinho do peito, naquele cantinho escuro que você nem se lembra que existe.

Seria bom se, como peças de Lego, tivessemos autonomia para pegar uma partezinha de cada tamanho, de cores diferentes, formatos distintos, e pudéssemos montar os sentimentos ideais.

Talvez assim, fôssemos capazes de controlar as emoções, de se desprender do que é preciso, de tirar as peças que não se encaixam como deveriam e trocá-las ou excluí-las quando preciso.

Batendo fora do bumbo...

Nos esforçamos o tempo todo para nos encaixar em tantos padrões, para corresponder a tantas expectativas e para sermos considerados normais. Estamos o tempo todo nos julgando e acreditando que não somos bons o bastante diante de outras pessoas...pessoas qu, às vezes, nem mesmo conhecemos. Achamos o tempo todo que poderíamos ser iguais à pessoas totalmente diferentes da gente.

Mesmo se tratando de padrões de autores desconhecidos, os tratamos como verdades únicas, como caminhos certos a seguir, dignos de nossa preocupação e encanação caso tenhamos vontade de tomar uma decisão diferente. Cara, isso não vale a pena...na moral.

Ser aquilo que se chama de normal é praquele que não busca, que não vê além, que não admite a possibilidade de um caminho alternativo...e tantas vezes melhor, mais bonito e é claro...bem mais difícil. Também não dá pra ser sopa no mel, né?!

Temos que estar o todo perdidamente apaixonados ou então sofrendo por amores perdidos ou não correspondidos. Temos que sentir o coração bater pelos delícias ou segurá-los quando ninguém acha aquela pessoa digna de um tremor nas pernas ou das mãos suando. Temos que assistir Big Brother e torcer pelo legalzão com cara de dó, temos que torcer pro vilão morrer ou ir pra uma cadeia bem porca na novela das oito...e temos que comer comida orgânica e integral, além de se filiar ao Greenpeace ou ao SOS Mata Atlântica. E temos que ser, obrigatoriamente, magros e ter o cabelo lindo ao acordar.

Quer saber, eu não gosto de comida orgânica, pareço um poodle depois da II Guerra Mundial quando acordo, não estou todos os dias perdidamente apaixonada e nem sofrendo por amor, e não quero ser alternativa pra parecer cool e bacanona! Pronto, falei. Temos medo de sermos aquilo que sentimos, temos medo de sermos aquilo que gostaríamos de ser.

Experimente a sensação de bater fora do bumbo, pelo menos uma vez. É incrível. Não se importe com classificações, com certo ou errado, saiba entender o que é que te faz bem...o que te faz sentir plenamente como tem vontade.