domingo, 22 de maio de 2011

"Não enxergo, mas me sinto..."

A sensação de nunca se sentir boa o bastante é uma tortura. É matar um leão por dia, é lidar com os demônios que estão dentro de você, batalhando insistentemente pra te provar que pode não ser só uma sensação, mas uma possível verdade doída, uma solidão que aterroriza. Por outro lado, pode ser um sinal de que se é boa o bastante, o bastante que baste pra você...e pra mais ninguém.

Detesto escrever como se estivesse com dó de mim. Mas é só escrevendo, como já disse tantas vezes nesse meu cantinho, que consigo me enxergar de fora, fazer uma avaliação, tomar decisões, pensar com clareza na bagunça que ronda meu cérebro nesses últimos meses. E mais ainda, consigo ver da maneira real se, afinal, sou boa ou não o bastante para aquilo que me importa de verdade.

Certa vez, Martha Medeiros disse "meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto".

O que me faz escrever essas palavras é justamente essa dúvida que insiste em ficar aqui, me chamando pra uma realidade que parece tão distante pra mim. É esse confronto de ir e ficar, rir e de chorar, de manter e de soltar. É esse temor de qualquer passo poder ser em falso, de qualquer atitude de bem ser em vão, de a qualquer momento perder o chão. O embate chega a ser tão intenso que diante das minhas rimas e da minha inconstância toda não sei se sou mais Martha ou mais Camões. E o que é melhor?!

Busco sentimentos e momentos que nem sei mais onde procurar, busco palavras que não sei de quem eu quero ouvir, busco canções que nem sei se já foram produzidas, busco palavras que nem sei se já foram inscritas. Busco, irritante e incessantemente, uma reposta pra essa coisa chata de ser ou não boa ou bastante. Uma resposta pra essa pergunta que em insiste em querer saber de mim se eu já acho que me encaixo.

** Paul McCartney - Eleanor Rigby **

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Aquilo que é simples

Eu tenho tanta coisa guardada dentro de mim que não saberia dizer tudo nas palavras que conheço. Quando penso, repenso e volto a pensar ouço música e as coisas começam a fluir dentro de mim, como mágica. A música me ajuda a pensar de forma mais clara, a ver as coisas com mais transparência. Sempre fui adepta das coisas simples, até porque eu mesma não sou nem um tantinho assim simples. E pra mim, a música simplifica as coisas, torna tudo mais leve.

Em dias assim, as músicas simples são minhas preferidas. De instrumentos diferentes, de acordes simples e de letras singelas. Em dias assim, ouço a mesma música um milhão e meio de vezes até que tudo aquilo que eu sinto saia e se faça possível em palavras ou até mesmo voz para alguém que queira saber do que se trata.

Em dias assim, demoro a acertar o tom, a harmonia. Em dias assim, não há ritmos definidos ou bandas que se sobresaiam a outras. Em dias assim, preciso testar várias canções até achar aquela que acho que será capaz de traduzir as confusões do momento. E em dias assim, mais uma vez, só procuro pela simplicidade, só procuro por músicas que se fica assoviando o dia todo, no momento que for.

Em dias assim, que são como o dia de hoje, gosto de músicas que me digam algo como "i dont know to say goodbye to you...im not at things that i dont want to do...", ou qualquer coisa como "Meu amor essa é a última oração...Pra salvar seu coração...Coração não é tão simples quanto pensa...Nele cabe o que não cabe na dispensa". Enfim, palavras simples que dizem coisas complexas, que dizem coisas complexas de um jeito simples. Em dias assim, o fone de ouvido não sai de perto das minhas orelhas.

Oração - A Banda Mais Bonita da Cidade

A música mais simples e mais incrível que eu já ouvi.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Defeitos que sustentam meu edifício

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro", disse Clarice Lispector. Eu nunca fui boa em dividir coisas, simplificá-las e senti-las menos intensamente. Acho que estes são os defeitos que sustentam o meu edifício. São três defeitos que se resumem na minha insitência de se entregar às pessoas, às situações, aos meus sentimentos e a esses meus próprios defeitos.

São defeitos que as vezes os tenho como qualidade, pois são eles que me dão o frio na barriga, o medo do medo e a coragem para ter coragem. São eles que me mostram que às vezes é preciso segurar aquilo que queremos, segurar com todo o seu medo de perder, e entender que, querendo ou não, sendo egoísta ou não, divisão pode ser subtração. Eles mostram também que simplificar as coisas ou tentar simplificar pode resultar em dificuldade, ou, se eu pudesse criar uma palavra, dificultação.

Esses meus defeitos, ao mesmo tempo, me mostram que a divisão pode ser multiplicação, que simplificar as vivências pode resultar em tirar de dentro de si aquilo que não te faz bem. E me mostram ainda que ser intensa é o que faz com que a sua vida não seja uma simples paisagem diante dos seus olhos.

Esses mesmos defeitos são os responsáveis por levar minha sanidade pra bem longe de mim e manter os meus pés o mais longe possível do chão. E isso me faz pensar seguidas vezes em cortar essas características do meu cardápio. Mas, depois de pensar tantas vezes nisso tudo penso que sem esses defeitos essa não seria eu.

Passei, portanto, a admitir a intensidade, o ciúme tantas vezes descabido e não permitido, porém sempre controlado e quase que imperceptível que me faz não saber dividir aquilo que, às vezes, nem é meu, e passei a admitir também que tanto não sei simplificar as coisas que me confundo toda ao falar de mim mesma, ou daquilo que eu sinto. Passei, portanto, a admitir os defeitos que sustentam meu edifício.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Era muito melhor...


Era bem mais divertido ser criança antigamente. Alguém cantar "gorda, baleia, saco de areia" era uma parte de sua vida escolar e não bullying. Escutar isso não fazia de você um atirador, mas só um gordinho engraçado. Daqueles em que as máscaras de flor da chegada da primavera não cabem nos rostinhos e os uniformes são tamanho 16 quando se tem 10 anos.

A comida era a mesma, porém menos mortal do que se julga hoje. Pô, a gente molhava um pirulito no açúcar antes de chupar. Alô você que amava um Dip Link. A gente comia algodão doce e só ficava com a boca grudando e não entrava pra índice de obsesidade infantil.

Ouvir Xuxa não fazia de você um otário entre as outras crianças. Isso porque elas ouviam Mara Maravilha, Angélica ou Trem da Alegria. Criança ouvia e cantavam “e todos gritam pega, estica e puxa... e viva a festa da Xuxa”. Hoje essas palavras são só usadas em letras de funk, inclusive a palavra Xuxa. Crianças não choravam amores perdidos, corações partidos e nem desilusões.

Crianças iam pra escola de uniforme, não de microshorts jeans, chapinha no cabelo e havaianas. Massa mesmo era usar tênis de luzinhas e ver quem fazia piscar mais tempo pisando mais forte. Os meninos usavam cuecas do He-Man (me lembro dessa do meu irmão), mas não queria mostrá-la pra todo mundo e não ficavam com a calça no meio da bunda. Usávamos calças de moletom, conjuntinhos e eventualmente uma calça jeans daquelas com elásticos na parte de trás da cintura, pra te envergonhar nas fotos que você vê hoje.

Usávamos rabo de cavalo, trança, maria chiquinha e nenhuma maquiagem, só as bochechas naturalmente rosadas. Minto, usávamos maquiagem sim...nas festas juninas, pintinhas feitas de lápis de olho. E os meninos?! Eles nem conheciam pentes! Hoje, eles querem é chapinhas mesmo! Hoje essa molecada só quer jeans colorido, óculos maiores que as caras, bonés em cima das orelhas com a aba reta, delineador escorrido e cabelo esticado na testa.

Comíamos arroz, feijão, bife e batata bem frita e estamos vivos até hoje. Não tinha essa de arroz integral, carne branca e escambal.

Não diziamos ao cara mais gato da escola, que ele era O cara por tweet, scrap ou mensagens no Face! O bom mesmo era escrever cartinhas,caprichar na letra, fazer coraçãozinho e ser bem brega. Era “bom” até vê-los rindo com os amigos, rasgando as cartinhas e sentir o coração quebrando.

Não fazíamos bico e nem tirávamos foto em frente ao espelho querendo ter 15 anos a mais. Não íamos em balada., íamos nas matinês de domingo e nas festas de aniversário, e o ápice da noite (que terminava no máximo ás 22h) era a hora da salada mista.

Tomávamos coquetel de frutas...sem álcool. Nada de vodka, nada de “breja", nada de ficar de porre, nada de experimentar o que não era da nossa hora. Não pegávamos, paquerávamos e ficávamos quando dávamos aquela sorte. Não se saia por aí colocando a língua em qualquer lugar. E digo sorte porque sempre fui a gordinha da turma, mas dei a sorte de conversar com caras bacanas que viram além disso. E sim, as gordinhas eram achincalhadas e excluídas, o que digo novamente, não fez de mim uma “tiros em Columbine”.

Mãe era mãe, pai era pai, e não véio, véia, a chata,o insuportável. Não se tinha a opção de ir ou não almoçar na casa dos seus avós aos domingos, se acompanhava os pais e pronto,mesmo que fosse naquele bingo beneficente.

Não tínhamos vergonha de bexigas em festas de aniversário...festas que aconteciam no seu quintal ou no salão de festa do seu prédio. Não queríamos fazer a festa num baile funk, com DJ e um bartender.

E o melhor de tudo é que, apesar de termos sido, não queríamos ser iguais uns aos outros. Não queríamos ser repetidos, não tínhamos pressa de ser o que não éramos.

domingo, 8 de maio de 2011

Resolvi que...

Não pensar em nada te faz pensar em um milhão de coisas. Debaixo de um céu com pouco mais de quatro nuvens, no início destas palavras, vi como as coisas podem se desprender, se transformar...e mais facilmente do que se imagina e se teme.

Com este mesmo céu em cima de mim, numa tarde de outono em um domingo, depois de um almoço de Dia das Mães, resolvi que não quero mais um monte de coisas. Resolvi que não ouço mais Sara Bareilles, nem Strokes, Travis, Angus and Julia Stone, Coldplay ou Los Hermanos. Passei a desgostar mais de Angra do que o normal. Passei a apostar mais na minha playlist de U2, música mineira, Beatles, Aerosmith, Bon Jovi e Eliza Dolittle. E ainda preciso revisitar o Ira, o Biquini e os Engenheiros.

Não quero mais pintar as unhas de vermelho Vanguarda, não como mais Sonho de Valsa, Batom ou Ouro Branco. Não chamo mais bolacha de biscoito, não saio mais pra comprar frutas depois do almoço e o meu não gostar de leite aumentou.

Resolvi que o meu prazo para The Regulators, de Stephen King, termina na próxima segunda-feira, dia 16 de maio, quando imeadiatamente e mais do que depressa já será a vez de Crônicas de Nárnia, volume único.

Decidi que não quero mais fazer as unhas, ir a São Paulo ou chupar picolé de côco. Tudo é claro, no sentido figurado, que tem um sentido mais do que literal pra mim.

Decidi que não entendo pessoas que não têm uma cor preferida e que só sentem a falta das pessoas em seus respectivos ambientes. Afinal, até os daltônicos têm uma cor preferida, mesmo que eles gostem de uma e pensem ser outra.

Resolvi que não me condiciono mais a agir como se não me importasse. Resolvi que, de hoje em diante, sinto exatamente como devo e reajo como me convém. Assim, me machuco menos. Resolvi que não ouço mais as coisas sem revidá-las no tempo certo e não mais imediatamente.

Resolvi que não quero mais conhecer as pessoas a fundo, porque quando elas se mostram o que são, mesmo que não se acredite no que elas dizem, as suas reações podem ser ainda mais inacreditáveis.

No final de tantas resoluções, as nuvens no céu já não mais estavam lá. Só um passarinho sozinho, que parecia voar perdido. E foi incrível como eu me identifiquei com aquele cenário.

sábado, 7 de maio de 2011

Egoísta!

Chega uma hora em que temos mesmo que ser mais egoísta. É aquele momento em que nada, por mais claro que lhe pareça, faz sentido algum. É aquele momento em que se nãos e sabe distinguir as coisas, mas ainda assim é melhor não dividí-las com ninguém e ter um milhão e meio de opiniões.

É aquele momento em que o egoísmo é tão necessário a ponto de você ser capaz e passar por cima de sentimentos que não são seus, e pior, encará-los de frente. É aquele momento em que a sua dor, suas lágrimas e a sua angústia são mais importantes e mais sentidas e se acabam confundidas com aquela alegia alheia que contagia.

É aquele momento em que os sorrisos já não se sustentam, os assuntos acabam, as piadas perdem a graça e a vontade de se comunicar é engolida pela necessidade suprema do silêncio.

É aquele momento em que falar parece mais nocivo do que guardar pra si algo que te consome por dentro. Que supera suas boas sensações. Que deixam transparecer o descontentamento.

É aquele momento em que chorar sozinho te faz um bem mais confortável, mais aconchegante do que estar rodeado de pessoas que te querem bem.

É aquele momento em que você quer acreditar que tudo vai dar certo, mas perceber a sutileza de que, naquele instante, mais faz sentido entender que a confusão e os momentos ruins fazem parte da vida e devem ser sentidos intensamente.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ir além...

Eu escrevo tudo aquilo que penso. Ou quase tudo. Quase porque digo quase tudo o que gostaria. Por isso, escrevo. Insisto em achar que colocando em palavras escritas aquilo que pulsa dentro de mim posso dizer o que não diria a alguém pessoalmente. Em palavras escritas não preciso dizer nada a ninguém. Digo apenas a mim mesma.

Escrevendo passo a entender aquilo que sinto. Escrevendo minhas ideias se iluminam. Escrevendo não preciso explicar os detalhes. Escrevendo vou e volto sem que ninguém note a minha ausência, sem que ninguém me questione.

Escrevendo sou capaz de imaginar aquilo que gostaria ou que não gostaria de fazer, mas não posso. Escrevendo sou capaz de ir além do que eu posso dizer.

domingo, 1 de maio de 2011

Não gostar ou vontade de não gostar?!

Gostar ou não gostar. Ando pensado muito nisso nesses dias. No modo de gostar, na intensidade do gostar, da necessidade do gostar, na evolução do gostar. Por outro lado, do modo do não gostar, na intensidade do não gostar, da necessidade do não gostar, da evolução do não gostar.

Pior do que todos estes tem a vontade do gostar ou não. A vontade de gostar aparece quando as coisas lhe parecem naturais. Perceba. A vontade de gostar surge quando você quer gostar ainda mais, mesmo que não possa, ou que não deveria. A vontade de gostar dá ainda mais frio na barriga do que o gostar em si. A vontade de gostar te prova coisas, te transporta pra um mundo complicado a beça. A vontade de gostar te faz enxergar coisas que talvez possam alimentar dentro de você a vontade de não gostar.

A vontade de não gostar pode ser boa ou ruim, pode ajudar ou atrapalhar. A vontade de não gostar pode ser bem mais verdadeira, e na maior parte das vezes é mesmo, do que a vontade de gostar. A vontade de não gostar te mostra as coisas como elas realmente são, a vontade de não gostar te mostra a essência dos sentimentos, te mostra como seria bom poder dominar suas vontades.

A vontade de não gostar é aquela que elucida, que te sacode, que te aponta as coisas erradas, os passos em falso, a possível mudança do não gostar pro gostar. A vontade de não gostar é uma forma sutil de alerta, é a balança das suas outras vontades.

A vontade de não gostar sinaliza os seus desejos mais iconscientemente conscientes. Direciona sua força, seja para o lado que for. E isso tudo acontece porque simplemesmente porque a vontade de não gostar não é como não gostar realmente.