quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quando já não tem espaço

Você já teve a sensação de ter que comprimir sua alma pra caber apertadinha dentro do seu peito? Ter que acomodar dentro de um espaço tão pequeno aquilo que é tão grande? Ter que impor fronteiras a sentimentos que são ilimitados? Ter que tirar o velho pra colocar o novo mesmo que o antes fosse melhor do que o agora? Ter que fazer caber aquilo que não se quer, aquilo que te sufoca, aquilo que te faz pequena, aquilo que não cabem em lugar algum que não seja o seu coração.

Falta espaço, falta fôlego, faltam caixas suficientes para guardar aquela tranqueira toda que você carrega e que é importante pra você, mesmo sendo tão pesada. Falta espaço pro novo, mesmo ainda que, vez ou outra, ele possa ser melhor do que o velho.

Faltam prateleiras, gavetas e portas que sejam grandes e funcionais o bastante para organizar tudo aquilo que você precisa sentir...sentir dia a dia...pouco a pouco...até acabar e ir embora sozinho. Sem parecer que você está leiloando seus sentimentos.

Falta coragem de entregar pro mundo aquilo que te fez bem por tanto tempo. Aquilo que lhe era seguro, que lhe era reconfortante. Aquilo com que você já sabe lidar, aquilo diante de como você já sabe como deve agir. Aquilo que não te exige nenhum risco, nenhuma tentativa nova.

Por isso, falta espaço também para colocar assustadores e excitantes novidades, decisões, novos meios de vida, esperanças de boas novas lembranças. Falta espaço pra coragem, pra ousadia.

Falta espaço para caber dentro de si tanta intensidade, tanta vivacidade, tanto riso e tanto choro. Tanto medo e tanta vontade de tentar. Falta espaço para fazer caber dentro de si o desejo de enfrentar, que assusta tanto, aquilo tudo que não cabe no peito.

"Quando já não tinha espaço pequena fui...quando a vida me cabia apertada. Em um canto qualquer acomodei minha andança e meus traços de chuva..."

** Quando fui chuva, Maria Gadu **


Um comentário:

Unknown disse...

Falta muita coragem de abrir mão daquilo que por tanto tempo me fez tão bem, ainda que "aquilo" nem seja mais meu!
Lindo texto xará! Perfeito!