quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ameaçado de demolição, Minhocão vira protagonista de filme

“Cicatriz urbana”, “desastre paisagístico” e “arquitetura cruel” são algumas das definições já usadas pelos críticos do Minhocão – a via de 3,5 km que liga a Zona Oeste ao Centro de São Paulo.

Mas há quem veja a construção como um “espaço cinematográfico”.
Caso do cineasta João Clark de Abreu Sodré, que em parceria com os diretores Paulo Dominguez Pastorelo e Maíra Santi Bühler produziu o premiado documentário “Elevado 3.5”. O filme, que chegará aos cinemas no dia 4 de junho, faz um retrato humano da construção, descrevendo a rotina de quem mora no entorno da polêmica obra desenvolvida nos anos 70, na gestão do ex-prefeito Paulo Maluf.

“Nossa ideia era mostrar que existe vida nesse lugar que é considerado morto”, explica Sodré, que também é arquiteto e tem um escritório nos arredores da via.

“Tinha curiosidade em saber quem são as pessoas que habitam aqueles prédios, como lidam com as propostas de demolição. E sempre achei o Minhocão um espaço extremamente cinematográfico”.

O trio de documentaristas elegeu diferentes perfis de moradores para “estrelar” o filme – em comum, somente o fato de morarem em apartamentos de frente ao Minhocão.

“Por três meses batemos de porta em porta entrevistando a vizinhança, do térreo à cobertura dos edifícios”, conta o diretor.

Entre os personagens de “Elevado 3.5”, está um pedreiro, as filhas de um imigrante italiano, um cabeleireiro transexual, o dono de um comércio na região. “São pessoas que pagam aluguéis extremamente caros só para viver perto do emprego ou para estar próximas do Centro. São inquilinos, difícil alguém que compre um apartamento e pense num futuro ali”, avalia Sodré.

Cine Minhocão

Vencedor da mostra de documentários “É tudo verdade”, a produção já tem carreira internacional. “Elevado 3.5” foi selecionado para mostras na França, Itália, Canadá, Colômbia e Cuba.

Antes de entrar em cartaz nos cinemas do país, o filme terá uma exibição especial no próximo dia 30. Um telão será instalado entre a rua Helvétia e a alameda Glete – pontos por onde passam o Minhocão - às 19h.

A projeção gratuita do documentário acontecerá em momento que se discute – mais uma vez – a demolição da via. A Prefeitura de São Paulo anunciou no início deste mês que planeja acabar com a construção, e, dentro do projeto de revitalizar o Centro, construir no lugar um espaço de convivência, como uma ciclovia.

Sodré classifica a decisão como “delicada”. “Se pensarmos em qualidade de vida, claro que é interessante para a cidade. Mas o que acontecerá com as pessoas que vivem naquela região? E a especulação imobiliária? Há muitos interesses envolvidos nessa demolição”, opina.

O diretor, no entanto, diz que o documentário se mantém isento na questão. “Procuramos não fazer juízo de valor quanto à demolição. Nossa intenção foi mesmo fazer um retrato social do Minhocão. A grande lição que fica do filme é que nenhuma obra pública feita por decreto, por meios autoritários, poderia ser boa para a cidade”.

Fonte: G1.com

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