quinta-feira, 19 de maio de 2011

Defeitos que sustentam meu edifício

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro", disse Clarice Lispector. Eu nunca fui boa em dividir coisas, simplificá-las e senti-las menos intensamente. Acho que estes são os defeitos que sustentam o meu edifício. São três defeitos que se resumem na minha insitência de se entregar às pessoas, às situações, aos meus sentimentos e a esses meus próprios defeitos.

São defeitos que as vezes os tenho como qualidade, pois são eles que me dão o frio na barriga, o medo do medo e a coragem para ter coragem. São eles que me mostram que às vezes é preciso segurar aquilo que queremos, segurar com todo o seu medo de perder, e entender que, querendo ou não, sendo egoísta ou não, divisão pode ser subtração. Eles mostram também que simplificar as coisas ou tentar simplificar pode resultar em dificuldade, ou, se eu pudesse criar uma palavra, dificultação.

Esses meus defeitos, ao mesmo tempo, me mostram que a divisão pode ser multiplicação, que simplificar as vivências pode resultar em tirar de dentro de si aquilo que não te faz bem. E me mostram ainda que ser intensa é o que faz com que a sua vida não seja uma simples paisagem diante dos seus olhos.

Esses mesmos defeitos são os responsáveis por levar minha sanidade pra bem longe de mim e manter os meus pés o mais longe possível do chão. E isso me faz pensar seguidas vezes em cortar essas características do meu cardápio. Mas, depois de pensar tantas vezes nisso tudo penso que sem esses defeitos essa não seria eu.

Passei, portanto, a admitir a intensidade, o ciúme tantas vezes descabido e não permitido, porém sempre controlado e quase que imperceptível que me faz não saber dividir aquilo que, às vezes, nem é meu, e passei a admitir também que tanto não sei simplificar as coisas que me confundo toda ao falar de mim mesma, ou daquilo que eu sinto. Passei, portanto, a admitir os defeitos que sustentam meu edifício.

Um comentário:

Marília disse...

é sxu... já diria Martha Medeiros: "´Falhas´. Agradeça as suas, que é o que humaniza você, e nos fascina."